Projetos com crianças prevê espaços lúdicos destinados a elas, mas também um lar seguro e funcional. Afinal, quais tópicos são essenciais ao reformar ou adaptar uma casa ou apartamento para uma criança? Conheça estratégias importantes que vão desde a disposição dos móveis e eletrodomésticos, até a instalação do revestimento. A arquiteta Cristiane Schiavoni compartilha um compilado de observações sobre cuidados a serem tomados na arquitetura e decoração de interiores.
Acompanhe os principais tópicos elencados por ela:

Sala de Estar
Uma das questões que afetam a tranquilidade é a circulação, fruto da desproporcionalidade entre o tamanho do ambiente e as dimensões dos móveis escolhidos. “Essa sensação de aperto é um ‘convite’ para trombadas que podem machucar com gravidade”, avalia Cristiane. De acordo com ela, no estudo do layout o espaço vazio é tão importante quanto a área mobiliada. Para a área social desta casa (foto) com dois meninos com idade de 6 e 10 anos, a arquiteta promoveu a integração entre todos os ambientes. Além de favorecer a circulação, ajudando os pais a manterem as crianças sob seus campos de visão, o formato orgânico do mobiliário elimina as quinas perigosas.

Ela também alerta sobre o posicionamento dos objetos de decoração, principalmente em móveis mais baixos como mesa de centro que, de preferência, devem apresentar cantos arredondados. Por conta do fácil acesso, itens de vidro, porcelana e pontiagudos devem ser, obviamente, evitados.
E o tapete? Sobre essa peça polêmica a arquiteta possui uma opinião favorável sobre sua inclusão, mas tece algumas ressalvas: “Podemos seguir por dois caminhos. Ou trabalhamos com um modelo mais fino e acabamento antiderrapante, ou partir para uma versão mais estruturada para não formar as famosas orelhas das pontas que são perigosas por causarem tropeços”, pontua.

Varandas e salas de jantar
Em residências com crianças, Cristiane é enfática em eleger os formatos redondos ou ovais, eliminando as quinas vivas, se refletindo igualmente na estrutura das cadeiras. Sobre os materiais, vidro e a laca, por sua delicadeza, são acabamentos a serem evitados. “O tampo pode se danificar facilmente se a criança resolver fazer seus desenhos diretamente na mesa e sem nenhum apoio”, relata a profissional.

Escadas
Especialmente em apartamentos ou em casas com mais de um pavimento, é importante dedicar um olhar vigilante às escadas. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), na NBR 14718 que trata a respeito de guarda-corpos para edificação, determina uma altura mínima de 1,10 m englobando o piso acabado até a parte superior do peitoril. Na foto, o guarda-corpo e corrimão embutidos auxiliam na movimentação das crianças que, a depender da idade, precisam ser sempre acompanhadas por seus pais. “Mas precisamos ter em mente que criança não tem noção de perigo. Por isso, não adianta apenas acompanhar as referências arquitetônicas, pois um sofá próximo à escada se torna um meio para brincadeiras perigosas”, exemplifica. Portanto, além de observar as medidas determinadas protetivas, faz-se fundamental cuidar do posicionamento dos móveis.

Organização evita acidentes
Principalmente em apartamentos, papais e mamães sabem que os ambientes das áreas sociais se tornam locais de brincadeiras. Para mitigar eventuais riscos de quedas com brinquedos espalhados no chão, Cristiane enfatiza a necessidade de programar espaços de organização que podem estar em caixas ou em armários previstos para essa finalidade.

Cozinha
Cristiane é categórica: “Cozinha não é lugar para criança”. Afinal, reúne tudo que há de mais perigoso como fogo, calor e instrumentos pontiagudos e cortantes. Mas como se torna impossível restringir por completo, junto com o monitoramento dos responsáveis, ela indica posicionar os utensílios fora do alcance e considerar mudanças como a localização do forno. “Invés de instalá-lo embaixo do cooktop, como é costumeiro, a torre quente é uma excelente resolução”, relata. Para ampliar a proteção, o vidro triplo reduz as chances de queimaduras caso encostem as mãozinhas.
Os armários também precisam ser bem pensados e a definição dos puxadores e os sistemas de abertura precisam oferecer uma certa dificuldade para o manuseio dos pequenos. “Alguns puxadores são superperigosos e uma boa alternativa está em produzi-los direto na marcenaria”, indica.

Dormitórios
Quando se trata daquele ambiente da casa em que os filhos passarão a maior parte do tempo, a arquiteta propõe cantos arredondados para evitar que elas se machuquem por conta das quinas vivas. Além disso, no caso de bebês, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) exige que a pintura dos berços seja a base de tinta atóxica. “Para a aquisição do mobiliário, sempre verifico se a loja possui o selo do órgão”, reitera a profissional.

Banheiros
“Outro erro habitual é o de guardar remédios no gabinete do banheiro”, aponta Cristiane. O mesmo vale para itens de higiene pessoal e limpeza, pois um descuido abre a oportunidade para que crianças de menor idade os levem à boca.

Tomadas não combinam!
Embora os sistemas de instalações elétricas sejam mais seguros para evitar problemas no circuito – caso do dispositivo diferencial residual, o DR, presente no quadro de energia –, o risco de enfiar o dedinho ou algum outro objeto nos plugues é facilmente resolvido com protetores de tomadas.

Áreas externas
Por fim, a arquiteta chama atenção para casas e apartamentos com piscina e é enfática: “Nenhuma criança pode ter acesso sozinha”. Desde cercadinhos a tela de proteção, ela diz que os artifícios cooperam, mas que nada substitui a prudência irrestrita dos responsáveis. “Não dá para tirar os olhos nunca”, finaliza. Na piscina desta casa em Itu, no interior de São Paulo, assinada por Cristiane, conta com uma prainha para que os filhos dos moradores também possam brincar. Contudo, quando não está sendo usufruída, o acesso à piscina é protegido para que elas não entrem sozinhas.