A Triptyque Arquitetura dos sócios Carolina Bueno (brasileira), Gregory Bousquet, Olivier Raffaelli e Guillaume Sibaud (franceses) nasceu em Paris, onde os quatro arquitetos se conheceram enquanto cursavam a Faculdade de Belas Artes La Seine. Em 2000, o trio migrou para o Rio de Janeiro, atraídos pela energia emergente e inspirados pela exuberância e possibilidades do país. Desde 2002, a sede fica na capital paulista. É de lá e da filial francesa que seus projetos, marcados por muita inovação e sustentabilidade, têm rompido fronteiras.
Como é dividido o trabalho entre as equipes de Paris e São Paulo?
Paris especialmente cuida de projetos pela Europa e nós, do Brasil, atuamos com trabalhos em toda a América do Sul. Também há, dentro do escritório em São Paulo, uma base da França, que trabalha com o pessoal de lá.
Quais as principais diferenças de se atuar com arquitetura nos dois países?
Na França, a arquitetura pública social acontece de verdade. As licitações são interessantes para os jovens arquitetos. Já o Brasil tem muitas megalópoles em desenvolvimento, participar disso é muito gratificante.
Além do AGE 360 em Curitiba, quais são os projetos em andamento que serão lançados pela Triptyque nos próximos anos no Brasil?
Sports House na Fazenda Boa Vista, interior de SP; Casa Pedra, na Fazenda da Grama, interior de SP; Fasano Residences e Onze22, ambos em São Paulo; CoHaut, em Recife; e Varjota, em Fortaleza.
O diferencial sustentável tem sido usado na promoção de seus projetos. O que exatamente eles trazem de sustentável?
A autossuficiência energética, com adoção de painéis solares; bom uso da incidência solar para luminosidade; minimização dos efeitos do calor, sem precisar recorrer a muitos aparatos elétricos, a partir de recursos como brises e sombreamento vegetal; terraços plantados; e captação de água da chuva para manutenção de hortas e jardins são algumas das soluções.
Além da preocupação sustentável da construção em si, existe um cuidado com o urbanismo e a mobilidade no entorno das construções?
Propomos projetos que se abram para as ruas e calçadas e criem uma integração com o que está dentro e com o lado de fora, a partir de espaços integrados, fachadas ativas e vegetação continuada. Além disso, é importante que as construções dialoguem com a história da região em que estão inseridas, seja na escala, na materialidade ou no volume.
Em termos de materiais construtivos, vocês defendem a utilização de madeira, na contramão do momento, que usa bastante concreto. Construções de madeira são duráveis?
Com a manutenção correta e frequente, sim. Há menos deformações e dilatações térmicas por variação climática do que outros materiais, como concreto, por exemplo, e a construção é mais rápida. Para o Ecotone, que está sendo desenvolvido em Paris, com previsão de conclusão de obra para 2023, a estrutura será de madeira, com lajes de concreto. Já no projeto conceitual para a sede do Escritório Nacional de Florestas francês (ONF) propomos um edifício usando o máximo de madeira possível, desde a estrutura até os revestimentos internos, com isolamento térmico feito com lã de madeira. Somente as fachadas com revestimento metálico para proteger os elementos de madeira.
A biofilia é uma técnica evidente em seus projetos e de outros vários profissionais no momento. Vocês acreditam que é algo que vai crescer mais ou apenas uma tendência?
Esperamos que seja uma tendência crescente, porque nossos projetos já se baseiam em estudos e pesquisas que apontam para o conforto junto à vegetação como fundamental para o bem-estar, tanto em ambientes corporativos, quanto residenciais.
Para Curitiba vocês criaram o AGE 360, inspirado em arranha-céus internacionais, caracterizados por terem mais de 124m de altura, arquitetura arrojada e fachada marcante. Quais os desafios nesse projeto residencial?
O principal foi tirar partido do terreno com topografia acentuada que fica numa das regiões mais altas da cidade, o que, devido a isso, o coloca como um novo arranha-céu.
– incentivo à iluminação natural que respeita o ciclo circadiano em todos os ambientes;
– controle semestral da qualidade de água;
– controle de qualidade do ar, estimulando um edifício 100% smoke free nas áreas comuns e uso de materiais atóxicos;
– ambientes pensados para estimular a socialização entre os usuários;
– estímulo ao não sedentarismo, garantindo a facilidade para realizar atividades físicas no dia a dia, como piscina e academia equipada pela Technogym; desfibrilador em áreas comuns.
– horta orgânica, bicicletário coberto e jardim até dentro da garagem; o AGE 360 conta ainda com a chancela da Lapinha Spa, um dos principais spas de medicina holística
do Brasil, que auxiliará na realização de palestras e eventos para os moradores, incluindo a entrega periódica de legumes e verduras orgânicas direto de sua horta.
ag7realty.com.br
Uma proposta observada em seus projetos é a de criar espaços gratuitos e adicionais para os usuários. Como a arquitetura, de maneira geral, está colocando em prática esse senso de inclusão?
Um dos desafios do nosso dia a dia é propor aos clientes ideias que caminhem nessa direção. Recentemente, a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, surgiu com uma série de incentivos aos espaços mistos e de fruição pública à população que voltam em forma de benefícios financeiros à incorporadora, o que tem sido bastante eficaz na mudança de pensamento e, consequentemente, no desenvolvimento de projetos mais abertos aos habitantes da cidade.