Os sócios Ricardo Ruschel e Márcio Carvalho acreditam que a atuação do arquiteto vai além da concepção do projeto. Na Smart, criada por eles, a amplitude de espectro visa a qualidade do produto final tanto para moradores, como para o entorno e para a cultura local.

POR VIVIANE FREITAS

Arquitetos na escada do hall de entrada do Edifício Iguaçu. Feita de aço corten, pela Zol Metalúrgica, lembra a força e graça de artistas do Cirque Du Soleil.

Um dos lemas da Smart é viabilizar “uma arquitetura que interfere de forma responsável na paisagem da cidade, dialogue com o entorno”. Quais características têm uma arquitetura assim?

Clareza e praticidade são domínios da engenharia. É justamente a densidade, sutileza e subjetividade da pesquisa, do desenho e do gesto projetual que confere esta responsabilidade. É mais sobre processo criativo do que metrologia criativa.

Que tipo de desenho, materiais, elementos e soluções integram essa arquitetura?

Todos. Não há limite, em especial na arquitetura contemporânea. Entretanto, cada vez mais sentimos este chamado para o natural, para materiais orgânicos e imperfeitos, como a pedra, o concreto, a madeira, o aço patinado e, principalmente, o verde…. Há uma beleza enorme nesta imperfeição articulada num desenho arquitetônico mais limpo.

Inaugurado no primeiro semestre de 2020, o Edifício Iguaçu tem 14 unidades, de 103m² e 207m². Sua construção possibilitou uma sensível diminuição da velocidade dos carros que passam na frente, contribuindo para a segurança do bairro.
Painéis de ACM móveis revelam o trabalho artístico de Heloisa Crocco, feito exclusivamente para a fachada do Edifício Iguaçu. Quando a luz incide sobre os brises, o interior dos apartamentos recebe as sombras, tatuando o alfabeto de Heloisa sobre móveis e revestimentos. No térreo, uma versão fixa, como um portal de arte em metal. Execução da Metaf.

Um dos desafios atuais é lidar com a crescente expansão imobiliária e a necessidade de preservar e usar sustentavelmente áreas verdes restantes. Como seus projetos abordam esse dilema?

A cidade tem leis e diretrizes para seu desenvolvimento e direcionam volumetria, mas não condicionam o resultado. Ao arquiteto cabe hackear estes códigos, na medida do possível, e interpretá-los positivamente a favor da experiência
de seus usuários. Na medida que o urbano se torna a nova natureza urbana contemporânea, preservar e propiciar o contato com o espaço verdadeiramente natural é uma necessidade humana que pode ser viabilizada pelos projetos.

Residencial Porto 1820, projeto cuidadoso para merecer vizinhar com a contemporaneidade premiada da Fundação Iberê Camargo, às margens do rio Guaíba.
Varanda do Lajeado 167, cuja fachada de cada apartamento é marcada por caixas justapostas.
Lobby do Praça Nilo, com lofts, duplex e penthouse de 47 a 122m². Desenvolvimento imobiliário e curadoria de arquitetura em parceria com a incorporadora e construtora Wolens.

Que soluções sustentáveis são adotadas nas criações do escritório?

Entendemos sustentabilidade em amplo espectro como o uso técnico do bom senso. Brises, coberturas vegetadas, sistemas de isolamento térmico, vidros low emission,
reuso de águas, aquecimento solar condominial… Ganhamos um prêmio nacional de sustentabilidade por apenas usar o bom senso.

O trabalho da artista Heloisa Crocco para o Iguaçu cria uma fachada exclusiva e admirável. Como surgiu a ideia de somar a visão e prática artística à arquitetônica?

Queríamos explorar esta ponte no Iguaçu. Um caminho entre mundos: contemporâneo e o ancestral, a arte e a arquitetura. Um híbrido que se torna maior que a soma de suas partes. O modernismo flertou muito com a arte, queríamos restabelecer este elo perdido deixado por Niemeyer e Athos Bulcão. Heloisa é pura inspiração e o Iguaçu é filho de dois pais e uma mãe.

Amélia Teles 315 traz o conceito de planta livre, com unidades preparadas para serem configuradas de acordo com a necessidade de espaço e estilo de vida de cada morador. Interiores by profissionais parceiros. “Eles são a continuidade natural do trabalho do arquiteto e incorporador. Manifestam internamente a extensão da identidade da edificação”.

Ricardo Ruschel e Márcio Carvalho são arquitetos e urbanistas formados pela mesma instituição, a UFRGS. Mas o encontro entre eles, que deu origem à Smart – um ateliê de arquitetura e desenvolvimento imobiliário – aconteceu anos mais tarde, durante um projeto que ambos participavam. Carvalho trazia consigo a vivência de outras empresas, como a GAD Design (Porto Alegre), Screampoint (San Francisco e Xangai) e de sócio-fundador da Neorama e Miagui em Porto Alegre e São Paulo. Ruschel vinha de uma sociedade da Arquitetônica Projetos e Planejamento. Com atendimento amplo, a Smart atua com curadoria, projeção e desenvolvimento de todo o processo de incorporação, desde a compra do terreno à construção. Prêmios já conquistados, como: o Melhor da Arquitetura, Saint Gobain de Arquitetura Sustentável; participação do painel sul-americano na Bienal Ibero-Americana; ADVB e Bornancini de Design; e Sinduscon, demonstram, segundo a dupla, que esta amplitude de espectro é possível. “E que, de alguma forma, estamos em um caminho visto pela sociedade como relevante”. O portfólio, com cinco edifícios executados, dois em obras e onze em projeto – totalizando mais de 200 mil m² de área construída – são prova disso.

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