Os sócios Ricardo Ruschel e Márcio Carvalho acreditam que a atuação do arquiteto vai além da concepção do projeto. Na Smart, criada por eles, a amplitude de espectro visa a qualidade do produto final tanto para moradores, como para o entorno e para a cultura local.
POR VIVIANE FREITAS
Um dos lemas da Smart é viabilizar “uma arquitetura que interfere de forma responsável na paisagem da cidade, dialogue com o entorno”. Quais características têm uma arquitetura assim?
Clareza e praticidade são domínios da engenharia. É justamente a densidade, sutileza e subjetividade da pesquisa, do desenho e do gesto projetual que confere esta responsabilidade. É mais sobre processo criativo do que metrologia criativa.
Que tipo de desenho, materiais, elementos e soluções integram essa arquitetura?
Todos. Não há limite, em especial na arquitetura contemporânea. Entretanto, cada vez mais sentimos este chamado para o natural, para materiais orgânicos e imperfeitos, como a pedra, o concreto, a madeira, o aço patinado e, principalmente, o verde…. Há uma beleza enorme nesta imperfeição articulada num desenho arquitetônico mais limpo.
Um dos desafios atuais é lidar com a crescente expansão imobiliária e a necessidade de preservar e usar sustentavelmente áreas verdes restantes. Como seus projetos abordam esse dilema?
A cidade tem leis e diretrizes para seu desenvolvimento e direcionam volumetria, mas não condicionam o resultado. Ao arquiteto cabe hackear estes códigos, na medida do possível, e interpretá-los positivamente a favor da experiência
de seus usuários. Na medida que o urbano se torna a nova natureza urbana contemporânea, preservar e propiciar o contato com o espaço verdadeiramente natural é uma necessidade humana que pode ser viabilizada pelos projetos.
Que soluções sustentáveis são adotadas nas criações do escritório?
Entendemos sustentabilidade em amplo espectro como o uso técnico do bom senso. Brises, coberturas vegetadas, sistemas de isolamento térmico, vidros low emission,
reuso de águas, aquecimento solar condominial… Ganhamos um prêmio nacional de sustentabilidade por apenas usar o bom senso.
O trabalho da artista Heloisa Crocco para o Iguaçu cria uma fachada exclusiva e admirável. Como surgiu a ideia de somar a visão e prática artística à arquitetônica?
Queríamos explorar esta ponte no Iguaçu. Um caminho entre mundos: contemporâneo e o ancestral, a arte e a arquitetura. Um híbrido que se torna maior que a soma de suas partes. O modernismo flertou muito com a arte, queríamos restabelecer este elo perdido deixado por Niemeyer e Athos Bulcão. Heloisa é pura inspiração e o Iguaçu é filho de dois pais e uma mãe.
Ricardo Ruschel e Márcio Carvalho são arquitetos e urbanistas formados pela mesma instituição, a UFRGS. Mas o encontro entre eles, que deu origem à Smart – um ateliê de arquitetura e desenvolvimento imobiliário – aconteceu anos mais tarde, durante um projeto que ambos participavam. Carvalho trazia consigo a vivência de outras empresas, como a GAD Design (Porto Alegre), Screampoint (San Francisco e Xangai) e de sócio-fundador da Neorama e Miagui em Porto Alegre e São Paulo. Ruschel vinha de uma sociedade da Arquitetônica Projetos e Planejamento. Com atendimento amplo, a Smart atua com curadoria, projeção e desenvolvimento de todo o processo de incorporação, desde a compra do terreno à construção. Prêmios já conquistados, como: o Melhor da Arquitetura, Saint Gobain de Arquitetura Sustentável; participação do painel sul-americano na Bienal Ibero-Americana; ADVB e Bornancini de Design; e Sinduscon, demonstram, segundo a dupla, que esta amplitude de espectro é possível. “E que, de alguma forma, estamos em um caminho visto pela sociedade como relevante”. O portfólio, com cinco edifícios executados, dois em obras e onze em projeto – totalizando mais de 200 mil m² de área construída – são prova disso.
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